Interlocução x interlocutores
Escuto e escrevo no meu caderno de anotações: “ O pintar como arquitetura de um
espaço”, frase de Sergio Fingermann; frase grifada ao longo destas orientações, sempre dita e
redita, perseguindo este fazer , como um
ar sonoro, um beliscão na pele, um cisco no olho. Frase que se constrói neste
fazer: O que é este espaço de
arquitetura de uma tela? O que representa a Tela? Onde está a parte desta
memória e do sensível ? O que diz esse Pintar?.
Indagações que nos mostraram um
outro modo de ver, um exercício de construção, de olhar e de ter gestos lentos;
o que se consegue ver numa tela está na possibilidade de manter-se à
distancia, e mudando-se sempre de distancia, de lugar e,
afastando-se da tela, alteramos o foco, sempre ser o viajante e viajar nesta procura de olhar. A tela, diz ainda Sergio F., pede e sugere o
seu tempo acumulado, onde ao aprisionar o olhar neste fazer nos dá o todo do
trabalho; o trabalho na experiência, onde a tela guarda sua linguagem dilatada no tempo desta
espera e afastamento.
Nuances e questionamentos que se
dissolvem na tela. Estão lá e não estão, tudo se constrói e se esvai ao mesmo
tempo. Pintar é estar nesta flutuação perpétua e incerta, na busca daquilo que
foge: “O que está “entre” não se vê”,
outra frase, outra experiência que se abrem diante dos meus olhos. Se a imagem é um artifício, o que se vê? O
que se faz?, se pintar é estar distraído ou rigidamente atento? Onde sou quando
vejo?
Apreendo em meu fazer que “ A
tela é um Palco”, que se faz na estratégia de um diretor, de tirar, subtrair
tudo o que se reveste nas formas deste ver, e de organizar o visível, aquilo
que se quer mostrar, e neste trabalho de foco e subtração, onde esta a luz?. Se
a pintura pode ter e ser esse espaço de arquitetura, cores e formas sobem à
cena para revelar suas encenações, e você como diretor, sabe priorizar o
que quer ser dito?
“ A poesia da pintura está na
criação da ilusão”, “ Todo desenho é uma sombra ao redor da luz, onde o tempo dilatado se faz”
(Fingermann). Sempre adiar a forma, abstrair o tempo no gerúndio, procure a
espessura da obra que nunca, nunca está na tendência, “ mas nas sua poética
pessoal”.
O conteúdo da arte não está na imagem- mas
além dela”. E assim fui anotando, e
assim fui construindo , percorrendo o meu processo, e aprendendo que o que
pintamos não se vê, está entre a pintura e este fazer. Um desafio de eternas
angústias neste espaço de arquitetura que tropeçamos com o ego, se não escutar
com a alma.
anotações: Juracy Giovagnoli dos Santos