domingo, 25 de março de 2012

Work in progress ....



Cristiane Mohallem no Contraponto
ver seus novos trabalhos aqui

Mensagens por Suely Cauduro


Suely Cauduro suely@suelycauduro.com



Mensagens

Do livro"A lebre com olhos de Âmbar" de Edmund De Waal
pag 198 - sbRainer Maria Rilke época de 1930

Rilke era o grande radical da época. Ele combinava a expressão direta com a intensa sensualidade em seus "poemas coisas"
" A coisaé definitiva, a coisa arte deve sê-lo ainda mais, desprovida de qualquer acidente, privada de toda obscuridade...

E seus poemas estão cheios de perigos " toda arte é resultado de alguém ter passado um perigo, ter passado por uma experiência inteira até o fim, a partir de onde não se pode ir adiante."

Ser um artista é isso. Você está em situação instável, nos limites da vida como um cisne, antes de "seu posar medroso na água, que o recebe suavemente "aconselhou Rilke a Elizabeth " não é o jardineiro que elogia e agrada o que mais ajuda, mas aquele que usa a tesoura da poda e a pá; ar e preensão."
Testo enviado às amigas artistas por


 SuelyCauduro







quarta-feira, 14 de março de 2012

Tema: Memória e Imagem


Artigo

Grande demais

De Vladimir Safatle
Tema para refletir sobre Mémoria e Imagem:



Os artistas são como os filósofos, têm freqüentemente uma saúde frágil, não por causa de suas doenças ou de suas neuroses, mas porque viram na vida algo grande demais para qualquer um, grande demais para eles, e que pôs neles a marca discreta da morte” .Tal afirmação de Gilles Deleuze e Féliz Quattari tem o mérito de fornecer um diagnóstico de época.


Se a idéia estiver correta, então a arte e a filosofia sempre perderão força em épocas que têm medo da doença e da neurose, épocas que vêem nelas apenas momentos vazios que devem ser  aniquilados o mais rápido possível.


Mas, muitas vezes, a doença é, no fundo, a preservação de um futuro em suspenso. Seu trabalho consiste em lembrar-nos que nossa saúde ficou  pequena demais, que a vida que se repete na saúde não consegue produzir formas para o que parece  “grande demais”. Por isso, a saúde que encontramos depois da doença nunca é o retorno ao estado anterior. Compreender que nunca voltaremos ao estado anterior é condição para romper com a fixação em algo que acaba apenas por nos aprisionar no que não tem mais força para perpetuar-se.


Alguns podem ver nesse  “topos” uma recuperação da velha crença romântica tardia na “formação pelo sofrimento”. Outros veriam, ao contrário, uma maneira peculiar de acreditar que a vida sempre consegue encontrar respostas para os problemas que ela mesma coloca, desde que estejamos dispostos a ouvir as perguntas.


Como bem nos mostrou um psicanalista como Jacques Lacan, as neuroses são questões, assim como a doença é um tensionamento da vida – o que talvez nos explique porque não há organismo absolutamente saudável, nem sujeito desprovido de sintoma.


Essa é uma estratégia dos que acreditam que a verdadeira perspectiva moral consiste em estar à altura do que nos ocorre. Os que sentiram com muita proximidade a neurose podem usar suas forças para esquecê-la, um pouco como gostaríamos que nosso organismo esquecesse as doenças pelas quais passou. Outros encontrarão nela suas melhores questões, de maneira distorcida e mal colocada.


Que um dos maiores artistas plásticos vivos, Anselm Kiefer, tenha construído um impressionante conjunto de obras a partir de materiais em ruínas, lembranças gastas, imagens de grandiosidade envelhecidas pelo tempo, eis algo que parece validar a afirmação de Deleuze e Guattari. Sua obra lembra como há algo que passou arruinando as formas que tínhamos, algo que deixou nossas figuras “pequenas demais”, imprimindo nelas a marca discreta da morte. Tais artistas nos mostram que nossa época não conhece o verdadeiro movimento.


Vladimir Safatle,  artigo retirado da Folha de S.Paulo, (13.03.2012)


O artista, esse ser de saúde frágil que vê algo grande demais, aquele que está próximo da dor, como o ser doente - da vida que se repete na saúde, e nunca voltamos ao estado anterior, como bem demonstra o filósofo e escritor Valdemir Safatle, neste artigo pertinente para se discutir o tempo, a memória e imagem, onde a posição ética de todo artista na elaboração de seu processo, cabe investigar sua matéria prima, aquilo com o que ele constrói, no embasamento do trabalho, no que cabe nesta experiência de morte e elaboração com a criatividade.
 

Discutimos também a importância da Exposição de Alberto Giacometti,  com a proposta de estudar esse artista antes de ver a exposição em Março na Pinacoteca
Alberto Giacometti, por conta de seus interesses e da amizade com o escritor e filósofo Jean-Paul Satre, foi o artista mais associado ao existencialismo. Estudou com  Antoine Bourdelle e foi influenciado por Constantin Brancusi e Jacques Lipchitz, começando a fazer experiências com o cubismo e o construtivismo. Conheceu André Breton em 1930, juntando-se aos surrealistas. Em 1939, conheceu Satre e Simone de Beauvoir. Para fugir da França ocupada pelos nazistas, voltou para Genebra, trabalhando com imagens que guardara dos modelos, criando pequenas esculturas figurativas. Considerado um dos fundadores do Modernismo.



Ver mais como sugestão sobre Giacometti aqui no site Wikipaintings
A retrospectiva de Alberto Giacometti começa no dia 24/03 na Pinacoteca de SP - "Alberto Giacometti: Coleção da Fondation Alberto et Annette Giacometti, Paris", com 280 obras - entre pinturas , esculturas, gravuras, fotografias e documentos.
Outra sugestão antes de visitar os seus trabalhos é ver a exibição do filme - "O que é uma cabeça? ou a Passagem do tempo", sobre a trajetória do artista, disponível na locadora 2001.








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Elaborado por Juracy

sexta-feira, 9 de março de 2012

Reflexões Contraponto



Hans Hofmann

Foi introduzido no nosso encontro em 7 de março, por Sergio Fingermann, o artista Hans Hofmann, com excertos de suas aulas, onde transcrevo aqui alguns trechos que nos interessou para discutir o “tempo e a memória”, retirado de “Teorias da Arte Moderna” de H.B. Chipp, editora Martins Fontes.




. Natureza: a fonte de toda inspiração. Se o artista buscar os seus trabalhos diretamente na natureza, na memória ou na fantasia, a natureza sempre será a fonte dos seus impulsos criadores.

O Artista : é o agente em cujo pensamento a natureza se transforma numa fonte de criação. O artista aborda os seus problemas do ponto de vista metafísico. Sua faculdade intuitiva de sentir as propriedades inerentes às coisas dominam o seu instinto criativo.

Criação : é a síntese, do ponto de vista do artista, da matéria, do espaço e da cor. A criação não é a reprodução do fato observado.

  Espaço positivo: é a presença da matéria visível. Espaço negativo: é a configuração ou a “constelação” dos vazios entre e em volta das porções de matéria visível. No sentido científico, partícula de luz; no sentido artístico, a percepção das diferenças plásticas e psicológicas das nuanças de luz. Essas diferenças plásticas são concebidas como intervalos de cor, os quais se assemelham às tensões, vale dizer, às forças correlacionadas entre duas ou mais formas sólidas.

Visão: Na natureza, a luz cria a sensação de cor; num quadro, a cor cria a luz. É o estímulo do nervo ótico causado pela luz; artisticamente, é a consciência das variações na natureza desse estímulo que permite a distinção do espaço negativo, do positivo e da cor.


Empatia: é a projeção imaginativa da consciência de uma pessoa sobre outra, ou sobre alguma coisa. Na experiência visual, é a faculdade intuitiva para sentir as propriedades das relações (ou tensões) formais e espaciais e descobrir as características plásticas e psicológicas da forma e da cor. Meio de expressão: são os meios materiais através dos quais as idéias e emoções adquirem uma determinada forma visível. Cada meio de expressão tem a sua própria natureza e vida, de acordo com as quais os impulsos criativos são visualizados.
  O artista deve não só interpretar criativamente a sua experiência da natureza como também traduzir o seu sentimento da natureza numa interpretação criativa do “meio de expressão”. A natureza do meio de expressão se faz em parte através do processo de criação

. Plano Pictórico: É o plano ou a superfície onde a pintura existe. A essência do plano pictórico é a total ausência de relevo. Plano é sinônimo de duas dimensões. Plasticidade: é a transferência da percepção tridimensional para duas dimensões. Uma obra de arte é plástica quando a mensagem pictórica está integrada ao plano pictórico e quando a natureza está incorporada aos termos das propriedades do meio de expressão.

Espiritualidade: é a síntese intelectual e emocional das relações percebidas, racional ou intuitivamente, na natureza. A espiritualidade no sentido artístico não se confunde com a de conotação religiosa.

  Realidade: Artisticamente é uma consciência. Há dois tipos de realidade: a física, apreendida pelos sentidos, e a espiritual, criada, emocional e intelectualmente pelos poderes conscientes e inconscientes da mente.


Sobre o objetivo e a Natureza da Arte


O objetivo, até onde se pode falar em objetivo, tem sido sempre o mesmo: é a fusão da experiência obtida através da vida com as naturais características próprias da arte como meio de expressão. A intuição artística é a base que confere segurança ao espírito. A arte é um reflexo do espírito, um resultado de introspecção que encontra expressão na natureza da arte. Quando o artista é bem dotado – aquele que tem um sentimento consciente, boa memória e uma sensibilidade equilibrada – ele intensifica os seus conceitos, penetrando na sua subjetividade que é condensada à sua experiência de modo a formar uma realidade do espírito completa em si mesma. Dessa forma ele cria uma nova realidade em termos de meio de expressão. O meio de expressão se converte na obra de arte, desde que o artista seja intuitivo e ao mesmo tempo domine a natureza essencial da arte e os princípios que a governam.
Uma obra de arte é um mundo em si que reflete as percepções e emoções do mundo do artista. Tal como a flor, que, devido a sua existência como um organismo completo, é ornamental e ao mesmo tempo auto-suficiente quanto à cor, forma e textura, também a arte tem uma existência singular e é mais do que um simples ornamento.


Sobre a criação



A mente criativa e abrangente não conhece fronteiras. A mente nunca pára de ter novos domínios sob seu controle. Todas as nossas experiências culminam na percepção do universo como um todo e do homem como seu centro. A experiência visual não pode basear-se exclusivamente no sentimento e na percepção. Os sentimentos e percepções que não são sublimados pela essência das coisas se perdem no sentimental.
Toda expressão artística profunda é a soma do sentimento consciente mais a realidade. Isto se refere à realidade da natureza e à realidade da vida intrínseca ao meio de expressão. A diferença entre a arte produzida por crianças e as grandes obras de arte é que a primeira se situa ao nível do subconsciente e do emocional, enquanto a segunda se faz por meio de uma percepção consciente durante o desenrolar da obra e tem no plano emocional um maior controle sobre o meio de expressão. Para se perceber visualmente e transformar em termos plásticos o que foi percebido, é necessário a faculdade de empatia. (pg. 547).



Hans Hofmann ( 1880-1966) , pintor expressionista abstrato, professor influente de toda uma geração de artistas. Ele aprendeu e escreveu a respeito de suas próprias teorias de composição e cor por toda a vida, explorando incansavelmente a estrutrura pictórica, as tensões espaciais e as relações entre as cores. Segundo Sergio Fingermann: “Hofmann no fala da natureza como fonte de inspiração, este olhar para fora, como experiência de percurso, mas também na transcendência, na intuição, no instinto criativo, como forma de elaborar a experiência. Onde a criação não é a reprodução do fato observado, mas a elaboração destas sensações. Fala do plano pictórico como espaço de ilusão. O ver no engano, na ilusão , na superfície onde a pintura existe. Dar consciência ao ato de pintar.” Como leitura complementar foi sugerido o “Viajante e a sua sombra” de Nietzsche, e o filme “As praias de Agnes Varda”


Ver mais sobre  Hans Hofmann aqui.