Resenha / Arte/ O Que é arte/
Jorge Coli
O que é Arte
Jorge Coli
Editora Brasiliense. São Paulo-
SP- 1995
O autor concentra o seu discurso
no objeto artístico, alertando da dificuldade que existe para a definição do
que seja a arte, por sua complexidade e abrangência. Mas apesar desta
dificuldade, sabemos quando uma obra é considerada arte.
“Arte são certas manifestações da
atividade humana diante das quais nosso sentimento é admirativo (...) Se não
conseguimos saber o que a arte é, pelo menos sabemos quais coisas correspondem
a essa ideia e como devemos nos comportar diante delas” (08).
Ao problematizar o conceito de
arte, coloca em evidência todas as
formas que podem ser interpretadas para se negar qualquer linha de pensamento
que se apresenta como verdade absoluta, nesta difícil definição do que seja arte.
“Dizer o que seja arte é coisa
difícil. Um sem-número de tratados de
estética debruçou-se sobre o problema, procurando situá-lo, procurando definir
o conceito. Mas se buscamos uma resposta clara e definitiva, decepcionamo-nos;
elas são divergentes, contraditórias, além de frequentemente se pretenderem
exclusivas, propondo-se como solução única.” (07).
O autor também afirma que: -“ para uma pessoa, que
possua minimamente uma noção de cultura – essa entendida como um conjunto
complexo de padrões de comportamento, crenças, “instituições e outros valores
espirituais e materiais transmitidos coletivamente e característicos de uma sociedade” (08)- possam
identificar e reconhecer uma obra de arte.
O grande problema, afirma o
autor, é que o conceito de arte passa a ser superficial e deixamos de
reconhecer inúmeras obras que fogem do padrão clássico, aceito pela porção
leiga da sociedade. O autor nos mostra que um determinado objeto não é mais arte
que um outro, só por ter sido considerado como obra de arte.
Na associação proposta , ele nos faz refletir
que: - entre um carpinteiro, na
construção de um mobiliário, e na
sua complexa tarefa de definir e julgar
o seu objeto, seus parâmetros vão ser disposto
com a capacidade da objetividade; fato que um crítico de arte em seu julgamento
passa a ter dificuldade, pois a arte não mantém essa objetividade de definição.
Sendo ainda necessário conhecer e
estudar o estilo do autor para se reconhecer o processo na produção de sua
obra.
Existem instituições que
podem facilitar o trabalho de reconhecer e expor o que é
arte, ou pelo menos, o que é arte naquele lugar e espaço. Instituições estas, representadas por museus,
galerias, instituições, entre outros, que nos orientam em seu discurso de
especialistas: – críticos, historiadores de arte, peritos, conservadores de
museus.
Portanto, a arte é emoção, sentimento, mas também
depende da razão, da organização de ideias, da sua técnica e processo. Toda
leitura que se faz de uma obra é subjetiva ao proporcionar inúmeras
possibilidades de interpretação daquele que olha como espectador e daquele que olha como crítico.
Instauração de arte e os modos do
Discurso
A hierarquia dos objetos
pretendem afirmar que existe uma classificação das obras de arte feita pelos
críticos e que estes a classificam
quanto à sua qualidade, onde o critério
máximo - é a “obra prima” – no seu nível mais alto e
perfeito. E, como toda obra, perpassa por esses critérios de julgamento, que os
críticos utilizam, cada qual falando do seu tempo, com seus paradigmas e
consensos, vemos que os critérios são
efêmeros, como nos diz o autor: “podemos
chegar a uma constatação deprimente: a autoridade institucional do discurso
competente é forte, mas inconstante e contraditória , e não nos permite
segurança no interior do universo das artes” ( 21)
A busca do Rigor
A ideia de estilo pretende dar
suporte para a crítica e para o
discurso, buscando mostrar as características comuns às obras de arte de
qualquer segmento. Com o estilo, o crítico pode falar sobre alguma obra com
algum rigor e fazer comparações entre elas. O estilo pode remeter às fases da
obra de seus autores, como também se reconhece o autor de uma obra sem que se
procure sua assinatura ou etiqueta de informação. Apesar de parecer ser o
denominador comum das obras de arte, o estilo tem suas armadilhas, que podem
tornar uma análise superficial e ingênua: - “Percebemos, a partir desses
exemplos, que as classificações não são instrumentos científicos, que elas não
são exatas, que não partem de definições, e que agrupam obras ou artistas por
razões muito diferentes, entre as quais se pode encontrar a ideia de estilo, mas não forçosamente e sempre
parcialmente. O que nos leva a considerar que seu emprego deve ser muito
cuidadoso” (34).
Dentro desta análise, dizer
autoritariamente que uma obra é de estilo
“a” ou “b”, apenas diminui sua gama de interpretação, pois colocar uma
etiqueta em qualquer objeto, prende-o àquele
significado dado, extirpando as possibilidades de interpretação
múltiplas ou diferenciadas, e assim, aprisionando à obra no tempo, presa a uma definição formal e lógica.
Mais do que explicações,
conceitos, exemplos e comparações, pode-se perceber que a comunicação do objeto
artístico, se faz através de muitos enfoques, e estes podem ser através da
emoção, do espanto, da intuição, das inúmeras associações e evocações que se
faz diante de uma obra. E, fica evidente que se uma obra pode ser descrita a
partir de várias análises, e que todos esses parâmetros são maneiras de se
aproximar do objeto artístico e assim praticamente impossível esgotá-lo.
Juracy