sexta-feira, 9 de março de 2012

Reflexões Contraponto



Hans Hofmann

Foi introduzido no nosso encontro em 7 de março, por Sergio Fingermann, o artista Hans Hofmann, com excertos de suas aulas, onde transcrevo aqui alguns trechos que nos interessou para discutir o “tempo e a memória”, retirado de “Teorias da Arte Moderna” de H.B. Chipp, editora Martins Fontes.




. Natureza: a fonte de toda inspiração. Se o artista buscar os seus trabalhos diretamente na natureza, na memória ou na fantasia, a natureza sempre será a fonte dos seus impulsos criadores.

O Artista : é o agente em cujo pensamento a natureza se transforma numa fonte de criação. O artista aborda os seus problemas do ponto de vista metafísico. Sua faculdade intuitiva de sentir as propriedades inerentes às coisas dominam o seu instinto criativo.

Criação : é a síntese, do ponto de vista do artista, da matéria, do espaço e da cor. A criação não é a reprodução do fato observado.

  Espaço positivo: é a presença da matéria visível. Espaço negativo: é a configuração ou a “constelação” dos vazios entre e em volta das porções de matéria visível. No sentido científico, partícula de luz; no sentido artístico, a percepção das diferenças plásticas e psicológicas das nuanças de luz. Essas diferenças plásticas são concebidas como intervalos de cor, os quais se assemelham às tensões, vale dizer, às forças correlacionadas entre duas ou mais formas sólidas.

Visão: Na natureza, a luz cria a sensação de cor; num quadro, a cor cria a luz. É o estímulo do nervo ótico causado pela luz; artisticamente, é a consciência das variações na natureza desse estímulo que permite a distinção do espaço negativo, do positivo e da cor.


Empatia: é a projeção imaginativa da consciência de uma pessoa sobre outra, ou sobre alguma coisa. Na experiência visual, é a faculdade intuitiva para sentir as propriedades das relações (ou tensões) formais e espaciais e descobrir as características plásticas e psicológicas da forma e da cor. Meio de expressão: são os meios materiais através dos quais as idéias e emoções adquirem uma determinada forma visível. Cada meio de expressão tem a sua própria natureza e vida, de acordo com as quais os impulsos criativos são visualizados.
  O artista deve não só interpretar criativamente a sua experiência da natureza como também traduzir o seu sentimento da natureza numa interpretação criativa do “meio de expressão”. A natureza do meio de expressão se faz em parte através do processo de criação

. Plano Pictórico: É o plano ou a superfície onde a pintura existe. A essência do plano pictórico é a total ausência de relevo. Plano é sinônimo de duas dimensões. Plasticidade: é a transferência da percepção tridimensional para duas dimensões. Uma obra de arte é plástica quando a mensagem pictórica está integrada ao plano pictórico e quando a natureza está incorporada aos termos das propriedades do meio de expressão.

Espiritualidade: é a síntese intelectual e emocional das relações percebidas, racional ou intuitivamente, na natureza. A espiritualidade no sentido artístico não se confunde com a de conotação religiosa.

  Realidade: Artisticamente é uma consciência. Há dois tipos de realidade: a física, apreendida pelos sentidos, e a espiritual, criada, emocional e intelectualmente pelos poderes conscientes e inconscientes da mente.


Sobre o objetivo e a Natureza da Arte


O objetivo, até onde se pode falar em objetivo, tem sido sempre o mesmo: é a fusão da experiência obtida através da vida com as naturais características próprias da arte como meio de expressão. A intuição artística é a base que confere segurança ao espírito. A arte é um reflexo do espírito, um resultado de introspecção que encontra expressão na natureza da arte. Quando o artista é bem dotado – aquele que tem um sentimento consciente, boa memória e uma sensibilidade equilibrada – ele intensifica os seus conceitos, penetrando na sua subjetividade que é condensada à sua experiência de modo a formar uma realidade do espírito completa em si mesma. Dessa forma ele cria uma nova realidade em termos de meio de expressão. O meio de expressão se converte na obra de arte, desde que o artista seja intuitivo e ao mesmo tempo domine a natureza essencial da arte e os princípios que a governam.
Uma obra de arte é um mundo em si que reflete as percepções e emoções do mundo do artista. Tal como a flor, que, devido a sua existência como um organismo completo, é ornamental e ao mesmo tempo auto-suficiente quanto à cor, forma e textura, também a arte tem uma existência singular e é mais do que um simples ornamento.


Sobre a criação



A mente criativa e abrangente não conhece fronteiras. A mente nunca pára de ter novos domínios sob seu controle. Todas as nossas experiências culminam na percepção do universo como um todo e do homem como seu centro. A experiência visual não pode basear-se exclusivamente no sentimento e na percepção. Os sentimentos e percepções que não são sublimados pela essência das coisas se perdem no sentimental.
Toda expressão artística profunda é a soma do sentimento consciente mais a realidade. Isto se refere à realidade da natureza e à realidade da vida intrínseca ao meio de expressão. A diferença entre a arte produzida por crianças e as grandes obras de arte é que a primeira se situa ao nível do subconsciente e do emocional, enquanto a segunda se faz por meio de uma percepção consciente durante o desenrolar da obra e tem no plano emocional um maior controle sobre o meio de expressão. Para se perceber visualmente e transformar em termos plásticos o que foi percebido, é necessário a faculdade de empatia. (pg. 547).



Hans Hofmann ( 1880-1966) , pintor expressionista abstrato, professor influente de toda uma geração de artistas. Ele aprendeu e escreveu a respeito de suas próprias teorias de composição e cor por toda a vida, explorando incansavelmente a estrutrura pictórica, as tensões espaciais e as relações entre as cores. Segundo Sergio Fingermann: “Hofmann no fala da natureza como fonte de inspiração, este olhar para fora, como experiência de percurso, mas também na transcendência, na intuição, no instinto criativo, como forma de elaborar a experiência. Onde a criação não é a reprodução do fato observado, mas a elaboração destas sensações. Fala do plano pictórico como espaço de ilusão. O ver no engano, na ilusão , na superfície onde a pintura existe. Dar consciência ao ato de pintar.” Como leitura complementar foi sugerido o “Viajante e a sua sombra” de Nietzsche, e o filme “As praias de Agnes Varda”


Ver mais sobre  Hans Hofmann aqui.

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