terça-feira, 26 de março de 2013

Tema de reflexão






Sobre a arte

Pintura é linguagem
coerência 

sempre o produto de uma ação

A arte precisa voltar a ser arte

Ver o texto de Clarice Lispector :  O que é um espelho?
ausência de si mesmo, para se ver no espelho é preciso virar um alfinete para
ter a distância entre o eu e o que se vê.

A escuta do artista : - criar e construir na ausência.


- Posted using BlogPress from my iPad

quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

O que é arte por Jorge Coli


Resenha /  Arte/  O Que é arte/  Jorge Coli

 

 

O que é Arte

 

Jorge Coli

Editora Brasiliense. São Paulo- SP- 1995

 

O autor concentra o seu discurso no objeto artístico, alertando da dificuldade que existe para a definição do que seja a arte, por sua complexidade e abrangência. Mas apesar desta dificuldade, sabemos quando uma obra é considerada arte.

“Arte são certas manifestações da atividade humana diante das quais nosso sentimento é admirativo (...) Se não conseguimos saber o que a arte é, pelo menos sabemos quais coisas correspondem a essa ideia e como devemos nos comportar diante delas” (08).

Ao problematizar o conceito de arte, coloca  em evidência todas as formas que podem ser interpretadas para se negar qualquer linha de pensamento que se apresenta como verdade absoluta, nesta  difícil definição do que seja   arte.

“Dizer o que seja arte é coisa difícil. Um  sem-número de tratados de estética debruçou-se sobre o problema, procurando situá-lo, procurando definir o conceito. Mas se buscamos uma resposta clara e definitiva, decepcionamo-nos; elas são divergentes, contraditórias, além de frequentemente se pretenderem exclusivas, propondo-se como solução única.” (07).

O autor  também afirma que: -“ para uma pessoa, que possua minimamente uma noção de cultura – essa entendida como um conjunto complexo de padrões de comportamento, crenças, “instituições e outros valores espirituais e materiais transmitidos coletivamente  e característicos de uma sociedade” (08)- possam identificar e reconhecer uma obra de arte.

O grande problema, afirma o autor, é que o conceito de arte passa a ser superficial e deixamos de reconhecer inúmeras obras que fogem do padrão clássico, aceito pela porção leiga da sociedade. O autor nos mostra que um determinado objeto não é mais arte que um   outro,  só por ter sido considerado como obra de arte.

 Na associação proposta , ele nos faz refletir que: -  entre um carpinteiro, na construção de um mobiliário, e  na sua  complexa tarefa de definir e julgar o seu objeto,  seus parâmetros vão ser disposto com a capacidade  da objetividade;  fato que um crítico de arte em seu julgamento passa a ter dificuldade, pois a arte não mantém essa objetividade de definição. Sendo ainda necessário conhecer  e estudar o estilo do autor para se reconhecer o processo na produção de sua obra.

Existem instituições que podem  facilitar  o trabalho de reconhecer e expor o que é arte, ou pelo menos, o que é arte naquele lugar e espaço.  Instituições estas, representadas por museus, galerias, instituições, entre outros, que nos orientam em seu discurso de especialistas: – críticos, historiadores de arte, peritos, conservadores de museus.

Portanto,  a arte é emoção, sentimento, mas também depende da razão, da organização de ideias, da sua técnica e processo. Toda leitura que se faz de uma obra é subjetiva ao proporcionar inúmeras possibilidades de interpretação daquele que olha como espectador e  daquele que olha como crítico.

 

Instauração de arte e os modos do Discurso

 

A hierarquia dos objetos pretendem afirmar que existe uma classificação das obras de arte feita pelos críticos  e que estes a classificam quanto   à sua qualidade, onde o critério máximo -   é a “obra prima” – no seu nível mais alto e perfeito. E, como toda obra, perpassa por esses critérios de julgamento, que os críticos utilizam, cada qual falando do seu tempo, com seus paradigmas e consensos, vemos  que os critérios são efêmeros, como nos diz o autor:  “podemos chegar a uma constatação deprimente: a autoridade institucional do discurso competente é forte, mas inconstante e contraditória , e não nos permite segurança no interior do universo das artes” ( 21)

 

A busca do Rigor

 

A ideia de estilo pretende dar suporte para a crítica  e para o discurso, buscando mostrar as características comuns às obras de arte de qualquer segmento. Com o estilo, o crítico pode falar sobre alguma obra com algum rigor e fazer comparações entre elas. O estilo pode remeter às fases da obra de seus autores, como também se reconhece o autor de uma obra sem que se procure sua assinatura ou etiqueta de informação. Apesar de parecer ser o denominador comum das obras de arte, o estilo tem suas armadilhas, que podem tornar uma análise superficial e ingênua: - “Percebemos, a partir desses exemplos, que as classificações não são instrumentos científicos, que elas não são exatas, que não partem de definições, e que agrupam obras ou artistas por razões muito diferentes, entre as quais se pode encontrar a  ideia de estilo, mas não forçosamente e sempre parcialmente. O que nos leva a considerar que seu emprego deve ser muito cuidadoso” (34).

Dentro desta análise, dizer autoritariamente que uma obra é de estilo  “a” ou “b”, apenas diminui sua gama de interpretação, pois colocar uma etiqueta em qualquer objeto, prende-o àquele  significado dado, extirpando as possibilidades de interpretação múltiplas ou diferenciadas, e assim, aprisionando à obra no tempo,  presa a uma definição formal e lógica.

 

Mais do que explicações, conceitos, exemplos e comparações, pode-se perceber que a comunicação do objeto artístico, se faz através de muitos enfoques, e estes podem ser através da emoção, do espanto, da intuição, das inúmeras associações e evocações que se faz diante de uma obra. E, fica evidente que se uma obra pode ser descrita a partir de várias análises, e que todos esses parâmetros são maneiras de se aproximar do objeto artístico e assim praticamente impossível esgotá-lo.

 

 

Juracy

domingo, 23 de dezembro de 2012

A memória Inconsolável












.
 
Hiroshima, meu amor
 
Direção:  Alain Resnais
Filme Franco-japonês de 1959
Roteiro:  Marguerite Duras
 
 
A memória Inconsolável
 
 
Um filme que além de introduzir inovação e perspectiva inusitadas,   ao expor novas maneiras de fazer (forma ) e de ver (significado) no cinema e na vida, nos fala desta memória inconsolável,  na  reflexão sobre o tempo e as lembranças.
 
Baseado em texto do nouveau Roman francês de Marquerite Duras, pleno de nuances e aspectos que abrangem desde o fio temático: - o bombardeio atômico de Hiroshima, a presença dos personagens  que estão revendo o passado, nesta unidade de tempo, mesclado de memórias e cenas reais.
 
É um filme (de e) sobre a memória e o tempo, tratado de maneira visceral e contemporânea.  Falando de um relacionamento entre um homem e uma mulher, na possibilidade de convivência, solidificando os liames entre dois seres humanos, e o que os podem unir como premissa de um encontro real e significativo. E, como notas musicais, quando submetidos ao toque e pressão  dos dedos do pianista,  que nos graus desta variação e sutileza, revelam suas partituras únicas e seus tons, e nós como expectadores,  vamos saboreando, sem saber ao certo o que transmitem, ora vagos e silenciosos,  ora intensos e dramáticos.
Todos os contatos, expressões, diálogos, atitudes e posturas, pautam-se por estas sutis tonalidades e variações, e como acorde musical, na sua leveza, flexibilidade e imponderabilidade, que à semelhança do pensamento, dos sentimentos e das emoções, não se concretizam, mas revelam em outro estado de ser, porque assim a memória se faz.
Os tempos amorosos dos personagens revelam-se através dessas sinfonias, onde a junção passado e presente interagem, incorporam-se no agora dos sentimentos, onde as perturbações psíquicas pretéritas são retomadas,  neste lugar da memória onde o processamento poético permeia-se de indagações e angustias do vivido.
 
A  primeira frase  que se fala no filme: “ Tu n’as rien vu, à Hiroshima”  (Você não viu nada em Hiroshima), depois de minutos de imagens de um desenho abstrato de dois corpos entrelaçados, por fusões e sublinhado por um tema musical, os duplos sentidos entre frases e imagens se revelam. E nós, o que vemos em Hiroshima?
 
“Como você, lutei para manter uma memória inconsolável”, diz a voz feminina. E depois de um vazio, continua: “ E como você, eu esqueci”.
 
Memória e esquecimento são a matéria que desfilam em nosso campo visual.
“L´oubli cmmencera por l’oeil” ( O esquecimento comecará pelo olho), nesse  processo interior, temos o processo criativo:  imaginação e esquecimento, memória e realidade;  temas que se mesclam.
 
Tudo na película nasce do diálogo destes amantes, e a linha dramática se desenvolve através da memória e recordação. Deste modo, “a madrugada de amor em Hiroshima” é inseparável da” madrugada de morte em Never”,  no que fica desta vivência  entre espaço e tempo, que ora se dissolvem ou ora se conectam.
 
O filme nos faz refletir sobre a sensação imprecisa da existência, em termos de desejo, sensação e vivência, do mundo real e do mundo dos sonhos e desejos; um mundo que se forma por contradições, do passado e do presente, do concreto e abstrato.
 
Onde o tempo da memória se faz? Esse é ao meu ver a indagação do filme. Onde o tempo, que não é busca racional, mas poética, nas livres-associações produzidas pelas sensações, lembranças, por um inconsciente que se manifesta e perfila o real. Somos a construção destes paradigmas. Nas falas que se encadeiam como versos de um poema, no ritmo de um poema. Não é o entendimento que interessa, mas a expressão que fica; uma parte desse tempo de busca que se instala e se dissolve, onde nada se explica, mas algo se constrói  nas suas entrelinhas.
 
 
 
Resenha: Uma atriz vinda de Paris para trabalhar numa fita em Hiroshima, tem uma aventura amorosa e revive, através do amante japonês, a trágica experiência que tivera durante a ocupação em Never, na França, com um amante alemão.
 
Juracy
 
 
 
 
 

segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

Sob as imagens....

Francis Bacon



Pintor anglo-irlândes (1909-1992)











Francis Bacon admite que o artista está sempre atado a realidade, onde alerta: o tema, a realidade é sempre uma isca, tem-se de começar a partir de um tema, de um ponto, que gradualmente irá evaporar-se e deixar aquele resíduo que chamamos de realidade, e que talvez vagamente tenha a ver com o que nos serviu de ponto de partida"




O que temos diante do nós, daquilo que o artista transmite é sempre outra coisa, que já não é a realidade, nem a evocação, mas sim  o que o artista conseguiu fazer dela. Que é sempre alguma coisa (que toma o lugar da verdade) mas que não é a verdade que se afirma na narração desta construção.

A pintura desestabiliza, porque nos tira do lugar conhecido. 

A realidade reinventada, desmontada no processo, para dar conta daquilo que se quiz dizer.

Onde as certezas vacilam - resiste na busca - na necessidade de se fazer imagem.

Uma imagem que não habita, onde ela é tecida no ato anterior ao ato.










  

quinta-feira, 18 de outubro de 2012

Anotações Contraponto



Leonardo Da Vinci, Anatomia Humana, 1489-90

O 
Olhar: imagem e representação





 





Olhar , enfrentar-se com uma
imagem, implica no processo de aproximação, uma forma de entender o mundo, uma
maneira de reconhecer  o que em processo
nos leva a desconhecer o já visto. Nada se sabe sobre o objeto, se a Arte é
sempre um mostrar de novo o que já se conhece. Onde a imagem se faz?





Compreender é refletir . Já
diziam as escolas gregas: quem  faz
Theoria – teoriza –  faz  uma ação baseada na observação, para em
seguida   ter  compreensão daquilo que se viu.





 





Olhar, ver, observar é neste
processo um “compor a realidade”, 
encontrar formas, símbolos, signos, desvendar o já visto. “O olhar é o
processo (subjetivo) da visão”, Só olhamos quando algo nos insere numa falta da
emoção sentida.





 Todo Olhar instaura um sentido. Forma a
consciência na busca de significados, das similaridades e diferenças, para   fortalecer
a discriminação,  um processo de escolha
e diferenciação. Todo  artista oferece ao
mundo o seu olhar.





Toda arte seria a apresentação de
uma visão, porque é um processo de re-apresentação.





Poesia e arte nos mostram o que
não vemos, e o que não se vê até que nos seja mostrado. Ver é diferente de
olhar. Olhar é fazer relações, ampliar o mundo, conectar com o não visto, a
verdade de uma falta.





Arte é ação,  no criar e recriar  um corpo e dar consciência pessoal,  transcender o já visto. Dar vida a uma forma
e substância para algo (ideia) ,e expressar o interiorizado.





Como resolver em ato o desejo?





 





Onde a imagem se faz?





O Olhar para o artista representa
o “acúmulo de olhares” de experiências acolhidas.





Adiar o que é visto, dar tempo,
saindo do imediato da imagem, construir e desconstruir, fazendo desconhecido o
olhar.





Representação





Por representar, Platão no seu discurso, entendia por imitar, imitatio, equivalente a enganar. Portanto, a realidade se encontra num plano metafísico, invisível - o das idéias. Representar, desenhar, cantar, atuar, pintar, seriam artes da imitação, do mentir. A arte, associada com o processo de representação, vincula-se ao engano, a imitação, ao simulacro porque transcende o real.


Transcender significa ir além.


 Olhar o que está além do olho, onde a verdade passa a ser de ordem imaterial, e só pode ser captada pelo espírito, ou seja, só pode ser pensada.


Todo simulacro permite abstrair, e abstrair é entrar na interioridade do sentir em sua síntese. Um agir no mundo, o de atuar um sentir, interferindo naquilo que se vê. Criando a imagem de um objeto feito por coexistências, simultaneidades, implicações e afinidades.





O olhar transforma o ver em representação.


 


O Olhar:   "Fera povoada de acordes, cruzada de simpatias e antipatias: um universo de afinidades. No seu bojo pode o olhar exercer fastas ou nefastas e produzir uma linguagem "Adauto Novaes) in "Olhar" Companhia das Letras.