Artigo
Grande demais
De Vladimir Safatle
Tema para refletir sobre Mémoria e Imagem:
“Os artistas são como os
filósofos, têm freqüentemente uma saúde frágil, não por causa de suas doenças
ou de suas neuroses, mas porque viram na vida algo grande demais para qualquer
um, grande demais para eles, e que pôs neles a marca discreta da morte” .Tal
afirmação de Gilles Deleuze e Féliz Quattari tem o mérito de fornecer um
diagnóstico de época.
Se a idéia estiver correta, então
a arte e a filosofia sempre perderão força em épocas que têm medo da doença e da
neurose, épocas que vêem nelas apenas momentos vazios que devem ser aniquilados o mais rápido possível.
Mas, muitas vezes, a doença é, no
fundo, a preservação de um futuro em suspenso. Seu trabalho consiste em
lembrar-nos que nossa saúde ficou
pequena demais, que a vida que se repete na saúde não consegue produzir
formas para o que parece “grande
demais”. Por isso, a saúde que encontramos depois da doença nunca é o retorno
ao estado anterior. Compreender que nunca voltaremos ao estado anterior é
condição para romper com a fixação em algo que acaba apenas por nos aprisionar
no que não tem mais força para perpetuar-se.
Alguns podem ver nesse “topos” uma recuperação da velha crença
romântica tardia na “formação pelo sofrimento”. Outros veriam, ao contrário,
uma maneira peculiar de acreditar que a vida sempre consegue encontrar
respostas para os problemas que ela mesma coloca, desde que estejamos dispostos
a ouvir as perguntas.
Como bem nos mostrou um psicanalista
como Jacques Lacan, as neuroses são questões, assim como a doença é um
tensionamento da vida – o que talvez nos explique porque não há organismo
absolutamente saudável, nem sujeito desprovido de sintoma.
Essa é uma estratégia dos que
acreditam que a verdadeira perspectiva moral consiste em estar à altura do que
nos ocorre. Os que sentiram com muita proximidade a neurose podem usar suas
forças para esquecê-la, um pouco como gostaríamos que nosso organismo
esquecesse as doenças pelas quais passou. Outros encontrarão nela suas melhores
questões, de maneira distorcida e mal colocada.
Que um dos maiores artistas
plásticos vivos, Anselm Kiefer, tenha construído um impressionante conjunto de
obras a partir de materiais em ruínas, lembranças gastas, imagens de
grandiosidade envelhecidas pelo tempo, eis algo que parece validar a afirmação
de Deleuze e Guattari. Sua obra lembra como há algo que passou arruinando as
formas que tínhamos, algo que deixou nossas figuras “pequenas demais”,
imprimindo nelas a marca discreta da morte. Tais artistas nos mostram que nossa
época não conhece o verdadeiro movimento.
Vladimir Safatle, artigo retirado da Folha de S.Paulo, (13.03.2012)
O artista, esse ser de saúde frágil que vê algo grande demais, aquele que está próximo da dor, como o ser doente - da vida que se repete na saúde, e nunca voltamos ao estado anterior, como bem demonstra o filósofo e escritor Valdemir Safatle, neste artigo pertinente para se discutir o tempo, a memória e imagem, onde a posição ética de todo artista na elaboração de seu processo, cabe investigar sua matéria prima, aquilo com o que ele constrói, no embasamento do trabalho, no que cabe nesta experiência de morte e elaboração com a criatividade.
Discutimos também a importância da Exposição de Alberto Giacometti, com a proposta de estudar esse artista antes de ver a exposição em Março na Pinacoteca
Alberto Giacometti, por conta de seus interesses e da amizade com o escritor e filósofo Jean-Paul Satre, foi o artista mais associado ao existencialismo. Estudou com Antoine Bourdelle e foi influenciado por Constantin Brancusi e Jacques Lipchitz, começando a fazer experiências com o cubismo e o construtivismo. Conheceu André Breton em 1930, juntando-se aos surrealistas. Em 1939, conheceu Satre e Simone de Beauvoir. Para fugir da França ocupada pelos nazistas, voltou para Genebra, trabalhando com imagens que guardara dos modelos, criando pequenas esculturas figurativas. Considerado um dos fundadores do Modernismo.
Ver mais como sugestão sobre Giacometti aqui no site Wikipaintings
A retrospectiva de Alberto Giacometti começa no dia 24/03 na Pinacoteca de SP - "Alberto Giacometti: Coleção da Fondation Alberto et Annette Giacometti, Paris", com 280 obras - entre pinturas , esculturas, gravuras, fotografias e documentos.
Outra sugestão antes de visitar os seus trabalhos é ver a exibição do filme - "O que é uma cabeça? ou a Passagem do tempo", sobre a trajetória do artista, disponível na locadora 2001.
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Elaborado por Juracy
Ver mais como sugestão sobre Giacometti aqui no site Wikipaintings
A retrospectiva de Alberto Giacometti começa no dia 24/03 na Pinacoteca de SP - "Alberto Giacometti: Coleção da Fondation Alberto et Annette Giacometti, Paris", com 280 obras - entre pinturas , esculturas, gravuras, fotografias e documentos.
Outra sugestão antes de visitar os seus trabalhos é ver a exibição do filme - "O que é uma cabeça? ou a Passagem do tempo", sobre a trajetória do artista, disponível na locadora 2001.
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Elaborado por Juracy
Ok!!!
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