quarta-feira, 4 de abril de 2012

A paisagem em Giacometti III

































Paisagens com casas
Stampa (1961)
Giacometti

O tema de hoje no contraponto:

"Para Giacometti a paisagem não é o assunto, o que importa é a pintura como processo. O desenho foi seu suporte e busca. Um desenho que procura autonomia. O seu realismo é de outra natureza, sempre revelado pelo vazio e espaços que o cercam. É o traço que procura, não a coisa revelada.
Sejam desenhos ou esculturas, a busca da arte deste fazer como processo. Nenhum traço é heróico. O tema tanto faz. Não é o assunto. A visão como busca.


Seu tema é a solidão, a angustia. A distancia, para exprimir a dor, para mostrar este espaço de solidão. A matéria mexida, sempre mexida no fazer que emana da matéria.


Entre o olhar e o objeto ele faz da memória o seu foco, ou o mais perto daquilo que ele vê: o que importa é o sujeito.


O desenho como questão central nas obras de Giacometti.


O ser inseparável do vazio que o cerca e o habita ( esse é o tema de Giacometti )


O olhar que define este fazer"




Fragmentos do Discurso sobre
Giacometti realizados por Sergio Fingermann

Anotado por Juracy



terça-feira, 3 de abril de 2012

Pina Bausch

Le Sacre Du Printemps by Pina Bausch Wuppertal Dance Theater

"Tudo é Dança"

"O que me interessa não é como as pessoas se movem, mas sim o que as move"

"O medo não cessa: medo de fracassar, medo de não terminar a tempo, afinal,
"no principio era o nada"

Palavras de Pina Bausch . Leia mais em http://www.pina-bausch.de/

domingo, 1 de abril de 2012

Alberto Giacometti












SÓ SEI O QUE VEJO, TRABALHANDO 


  Alberto Giacometti 

Trabalho até ao último minuto. Faço e refaço as coisas durante meses, mas termino-as em poucas horas. O que me move não é o desejo de trabalhar, mas sim o de entender o que quero fazer… e depois acabar o mais depressa possível.
 Talvez eu seja um falso escultor e um falso pintor. 
 A princípio, quando estava na Grande Chaumière (n.t.: academia de arte, em Paris, que teve grande reputação no início do século XX), sentia-me cerceado pela técnica: trabalhava segundo perfis e atendendo à iluminação. Mas assim que comecei a pintar à minha vontade, nunca mais me ralei com a luz.
 Em pintura temos de ter a luz em conta, se usarmos cores puras. Mas se pintarmos em tons de cinza e ocre, como eu, a iluminação pode mudar, que não afecta a pintura. A electricidade não me incomoda. É frequente trabalhar (pintar ou esculpir) à noite. É certo que não o faço de propósito. Talvez seja apenas porque à noite há mais sossego. De qualquer maneira, e independentemente da iluminação, as coisas deveriam parecer sempre bem. Aliás, seja de noite ou de dia, o que me interessa é o desenho. É ele que me fornece as formas.
O domínio do desenho deveria permitir-nos realizar todas as pinturas e esculturas que quiséssemos. Na verdade, as formas… nem sei o que isso quer dizer. A mim o que me interessa é o desenho. Antes da guerra, cheguei a fazer esculturas que se representavam apenas a si mesmas e que, a meu ver, saíam do domínio da escultura. Tiveram um certo sucesso. Mas esse sucesso acabou por me paralisar. Além disso, não me sentia à altura do papel que queriam que eu desempenhasse.
 E precisava de liberdade para poder trabalhar. 
Compreendi então que tinha de questionar tudo. E recomecei a trabalhar segundo a natureza – a fundo perdido. Trabalhava com modelos, mas de quanto fiz então, pouco resta. E, é claro, nem sequer pensava em expor. Trabalhei assim durante dez anos. Durante esse tempo, para sobreviver, fazia vasos, candeeiros, objectos decorativos, em colaboração com o meu irmão Diego e com o decorador Jean-Michel Frank. Trabalhando segundo a natureza, acabei a fazer esculturas minúsculas: três centímetros.
 Não era intencional. E não compreendia o que se passava. O trabalho começava grande e acabava pequeno. Só o minúsculo me parecia conforme. Mais tarde entendi: não conseguimos ver uma pessoa no seu conjunto a menos que se afaste e fique minúscula.
 Em 1945, queria conservar a dimensão grande. Ora, a meu pesar, as figuras tornavam-se delgadas. A razão era simples: quanto mais perto estamos de uma coisa, mais distorcida a vemos. No meu caso, a dimensão que encolhia era a largura. E contudo imaginava figuras que deveriam ser de tamanho natural, como as de Maillol, por exemplo. Mas notei o seguinte: na natureza, nunca vemos as coisas como Maillol as representa. 
De facto, ele não trabalhava segundo a natureza, mas segundo a escultura. Pelo contrário, as máscaras dos negros da Nova Guiné e da Oceânia, ou dos esquimós, que me parecem tão expressivas, que têm ar de ter sido inventadas, e que são planas – mostram-se muito mais conformes. O que eles faziam era representar o que viam, de perto, e de uma forma bem mais fiel do que acontece com uma cabeça greco-romana. Tudo isto para dizer que trabalhar de acordo com a natureza me levou a fazer exactamente o contrário do que tinha imaginado que iria fazer. E foi assim que a natureza se me tornou totalmente desconhecida. Quando vemos uma pessoa de perto, olhamo-la de baixo para cima e de cima para baixo, sem conseguirmos apreender a sua largura. Mas, à medida que nos afastamos, esta aumenta. E atingirá o ponto máximo quando a pessoa couber inteiramente no nosso campo visual. Mas, então, a figura será muito pequena. Há nisto um parentesco com a visão dos bizantinos, de Tintoreto, de Greco e de Cézanne, por exemplo. As suas figuras, em comparação com as figuras clássicas (Renascença), são alongadas. Ou assim nos parece, se aceitarmos que a visão clássica é a normal. Mas eu já não creio nisso. Não me parece que a visão clássica seja uma visão imediata e afectiva das coisas, mas antes a sua reconstituição racional. 
Os clássicos queriam compreender aquilo que viam. Agiam mais como sábios do que como pintores. A busca das leis da perspectiva, por Uccello, as dissecações e estudos anatómicos de Da Vinci provam-no. De facto, o que eles perseguiam não era uma visão do homem, mas uma compreensão do corpo humano. Por exemplo, as personagens que Ticiano pintou, pergunto-me sinceramente onde é que ele as poderá ter visto.
 O que não impediu que, a pouco e pouco, as obras dos clássicos – que representam a soma dos seus conhecimentos sobre a realidade e não uma visão desta – se tenham substituído à própria visão da realidade. É por isso que as obras de arte da Renascença são ainda hoje consideradas, pela maioria das pessoas, como as obras-primas da arte, isto é, as representações mais válidas da realidade.
 A importância de Cézanne advém do facto de ter sido o único a romper profundamente com esta visão. E é graças a ele que toda a visão da realidade é hoje questionada. Com efeito, ele abriu um precipício perante qual cada um tenta salvar-se como pode. Até os cubistas regressaram à visão clássica. Assumem-se como sucessores de Cézanne, mas estão mais interessados nos processos de Cézanne do que nos seus fins. Cézanne servia-se de cubos, cones e esferas para chegar à sua visão de uma maçã. Mas para os cubistas a maçã deixa de ser um fim, torna-se, pelo contrário, um pretexto para desenhar cubos, cones e esferas.
 E como era difícil manterem-se muito tempo nessa posição, viraram-se para Ingres, para os pompeianos e os impressionistas. Restam os factos novos que são a pintura e a escultura abstractas (e tudo o que se lhe aproxima, como Klee, Miró, Brancusi). Pergunto-me até que ponto a arte abstracta poderá ser a nossa representação mais válida da realidade.
 Entre uma escultura e um belo vaso grego, ou um vaso pré-dinástico egípcio, ou um vaso chinês (mais belo do que qualquer escultura) não há diferenças de qualidade. Um machado pré-histórico pode ser tão belo como uma escultura. Mas isso não impede que permaneça no plano dos utensílios, ao nível de todos os outros utensílios, dos outros machados menos belos.
 Foi-me proveitoso fazer objectos utilitários (candeeiros, vasos, lustres, apliques, mesas, etc.). Julguei que estava a perder tempo, mas na verdade ganhei com isso, porque aprendi a ver as coisas no seu lugar, no domínio a que pertencem.
 Em resumo, se as comparar às obras pré-históricas, parece-me que as esculturas modernas, (abstractas ou que tendem à abstracção) não “descendem” da primeira escultura que representa uma mulher, mas dos machados pré-históricos.
 E, assim sendo, passam de um domínio para o outro e tornam-se objectos. Ora, para mim, um objecto não é uma escultura. Uma escultura deve ser a representação de alguma coisa para além de si própria.
 E a escultura só me interessa, verdadeiramente, na medida em que me permite representar a minha visão do mundo exterior. Mais ainda – para mim, a escultura constitui o meio de conhecer essa visão. A tal ponto que só sei o que vejo, trabalhando. E quando pinto, é com o mesmo propósito.


 Entrevista publicada na revista Sueca "Konstrevy" e publicada na edição Francesa de 1993

domingo, 25 de março de 2012

Work in progress ....



Cristiane Mohallem no Contraponto
ver seus novos trabalhos aqui

Mensagens por Suely Cauduro


Suely Cauduro suely@suelycauduro.com



Mensagens

Do livro"A lebre com olhos de Âmbar" de Edmund De Waal
pag 198 - sbRainer Maria Rilke época de 1930

Rilke era o grande radical da época. Ele combinava a expressão direta com a intensa sensualidade em seus "poemas coisas"
" A coisaé definitiva, a coisa arte deve sê-lo ainda mais, desprovida de qualquer acidente, privada de toda obscuridade...

E seus poemas estão cheios de perigos " toda arte é resultado de alguém ter passado um perigo, ter passado por uma experiência inteira até o fim, a partir de onde não se pode ir adiante."

Ser um artista é isso. Você está em situação instável, nos limites da vida como um cisne, antes de "seu posar medroso na água, que o recebe suavemente "aconselhou Rilke a Elizabeth " não é o jardineiro que elogia e agrada o que mais ajuda, mas aquele que usa a tesoura da poda e a pá; ar e preensão."
Testo enviado às amigas artistas por


 SuelyCauduro







quarta-feira, 14 de março de 2012

Tema: Memória e Imagem


Artigo

Grande demais

De Vladimir Safatle
Tema para refletir sobre Mémoria e Imagem:



Os artistas são como os filósofos, têm freqüentemente uma saúde frágil, não por causa de suas doenças ou de suas neuroses, mas porque viram na vida algo grande demais para qualquer um, grande demais para eles, e que pôs neles a marca discreta da morte” .Tal afirmação de Gilles Deleuze e Féliz Quattari tem o mérito de fornecer um diagnóstico de época.


Se a idéia estiver correta, então a arte e a filosofia sempre perderão força em épocas que têm medo da doença e da neurose, épocas que vêem nelas apenas momentos vazios que devem ser  aniquilados o mais rápido possível.


Mas, muitas vezes, a doença é, no fundo, a preservação de um futuro em suspenso. Seu trabalho consiste em lembrar-nos que nossa saúde ficou  pequena demais, que a vida que se repete na saúde não consegue produzir formas para o que parece  “grande demais”. Por isso, a saúde que encontramos depois da doença nunca é o retorno ao estado anterior. Compreender que nunca voltaremos ao estado anterior é condição para romper com a fixação em algo que acaba apenas por nos aprisionar no que não tem mais força para perpetuar-se.


Alguns podem ver nesse  “topos” uma recuperação da velha crença romântica tardia na “formação pelo sofrimento”. Outros veriam, ao contrário, uma maneira peculiar de acreditar que a vida sempre consegue encontrar respostas para os problemas que ela mesma coloca, desde que estejamos dispostos a ouvir as perguntas.


Como bem nos mostrou um psicanalista como Jacques Lacan, as neuroses são questões, assim como a doença é um tensionamento da vida – o que talvez nos explique porque não há organismo absolutamente saudável, nem sujeito desprovido de sintoma.


Essa é uma estratégia dos que acreditam que a verdadeira perspectiva moral consiste em estar à altura do que nos ocorre. Os que sentiram com muita proximidade a neurose podem usar suas forças para esquecê-la, um pouco como gostaríamos que nosso organismo esquecesse as doenças pelas quais passou. Outros encontrarão nela suas melhores questões, de maneira distorcida e mal colocada.


Que um dos maiores artistas plásticos vivos, Anselm Kiefer, tenha construído um impressionante conjunto de obras a partir de materiais em ruínas, lembranças gastas, imagens de grandiosidade envelhecidas pelo tempo, eis algo que parece validar a afirmação de Deleuze e Guattari. Sua obra lembra como há algo que passou arruinando as formas que tínhamos, algo que deixou nossas figuras “pequenas demais”, imprimindo nelas a marca discreta da morte. Tais artistas nos mostram que nossa época não conhece o verdadeiro movimento.


Vladimir Safatle,  artigo retirado da Folha de S.Paulo, (13.03.2012)


O artista, esse ser de saúde frágil que vê algo grande demais, aquele que está próximo da dor, como o ser doente - da vida que se repete na saúde, e nunca voltamos ao estado anterior, como bem demonstra o filósofo e escritor Valdemir Safatle, neste artigo pertinente para se discutir o tempo, a memória e imagem, onde a posição ética de todo artista na elaboração de seu processo, cabe investigar sua matéria prima, aquilo com o que ele constrói, no embasamento do trabalho, no que cabe nesta experiência de morte e elaboração com a criatividade.
 

Discutimos também a importância da Exposição de Alberto Giacometti,  com a proposta de estudar esse artista antes de ver a exposição em Março na Pinacoteca
Alberto Giacometti, por conta de seus interesses e da amizade com o escritor e filósofo Jean-Paul Satre, foi o artista mais associado ao existencialismo. Estudou com  Antoine Bourdelle e foi influenciado por Constantin Brancusi e Jacques Lipchitz, começando a fazer experiências com o cubismo e o construtivismo. Conheceu André Breton em 1930, juntando-se aos surrealistas. Em 1939, conheceu Satre e Simone de Beauvoir. Para fugir da França ocupada pelos nazistas, voltou para Genebra, trabalhando com imagens que guardara dos modelos, criando pequenas esculturas figurativas. Considerado um dos fundadores do Modernismo.



Ver mais como sugestão sobre Giacometti aqui no site Wikipaintings
A retrospectiva de Alberto Giacometti começa no dia 24/03 na Pinacoteca de SP - "Alberto Giacometti: Coleção da Fondation Alberto et Annette Giacometti, Paris", com 280 obras - entre pinturas , esculturas, gravuras, fotografias e documentos.
Outra sugestão antes de visitar os seus trabalhos é ver a exibição do filme - "O que é uma cabeça? ou a Passagem do tempo", sobre a trajetória do artista, disponível na locadora 2001.








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Elaborado por Juracy

sexta-feira, 9 de março de 2012

Reflexões Contraponto



Hans Hofmann

Foi introduzido no nosso encontro em 7 de março, por Sergio Fingermann, o artista Hans Hofmann, com excertos de suas aulas, onde transcrevo aqui alguns trechos que nos interessou para discutir o “tempo e a memória”, retirado de “Teorias da Arte Moderna” de H.B. Chipp, editora Martins Fontes.




. Natureza: a fonte de toda inspiração. Se o artista buscar os seus trabalhos diretamente na natureza, na memória ou na fantasia, a natureza sempre será a fonte dos seus impulsos criadores.

O Artista : é o agente em cujo pensamento a natureza se transforma numa fonte de criação. O artista aborda os seus problemas do ponto de vista metafísico. Sua faculdade intuitiva de sentir as propriedades inerentes às coisas dominam o seu instinto criativo.

Criação : é a síntese, do ponto de vista do artista, da matéria, do espaço e da cor. A criação não é a reprodução do fato observado.

  Espaço positivo: é a presença da matéria visível. Espaço negativo: é a configuração ou a “constelação” dos vazios entre e em volta das porções de matéria visível. No sentido científico, partícula de luz; no sentido artístico, a percepção das diferenças plásticas e psicológicas das nuanças de luz. Essas diferenças plásticas são concebidas como intervalos de cor, os quais se assemelham às tensões, vale dizer, às forças correlacionadas entre duas ou mais formas sólidas.

Visão: Na natureza, a luz cria a sensação de cor; num quadro, a cor cria a luz. É o estímulo do nervo ótico causado pela luz; artisticamente, é a consciência das variações na natureza desse estímulo que permite a distinção do espaço negativo, do positivo e da cor.


Empatia: é a projeção imaginativa da consciência de uma pessoa sobre outra, ou sobre alguma coisa. Na experiência visual, é a faculdade intuitiva para sentir as propriedades das relações (ou tensões) formais e espaciais e descobrir as características plásticas e psicológicas da forma e da cor. Meio de expressão: são os meios materiais através dos quais as idéias e emoções adquirem uma determinada forma visível. Cada meio de expressão tem a sua própria natureza e vida, de acordo com as quais os impulsos criativos são visualizados.
  O artista deve não só interpretar criativamente a sua experiência da natureza como também traduzir o seu sentimento da natureza numa interpretação criativa do “meio de expressão”. A natureza do meio de expressão se faz em parte através do processo de criação

. Plano Pictórico: É o plano ou a superfície onde a pintura existe. A essência do plano pictórico é a total ausência de relevo. Plano é sinônimo de duas dimensões. Plasticidade: é a transferência da percepção tridimensional para duas dimensões. Uma obra de arte é plástica quando a mensagem pictórica está integrada ao plano pictórico e quando a natureza está incorporada aos termos das propriedades do meio de expressão.

Espiritualidade: é a síntese intelectual e emocional das relações percebidas, racional ou intuitivamente, na natureza. A espiritualidade no sentido artístico não se confunde com a de conotação religiosa.

  Realidade: Artisticamente é uma consciência. Há dois tipos de realidade: a física, apreendida pelos sentidos, e a espiritual, criada, emocional e intelectualmente pelos poderes conscientes e inconscientes da mente.


Sobre o objetivo e a Natureza da Arte


O objetivo, até onde se pode falar em objetivo, tem sido sempre o mesmo: é a fusão da experiência obtida através da vida com as naturais características próprias da arte como meio de expressão. A intuição artística é a base que confere segurança ao espírito. A arte é um reflexo do espírito, um resultado de introspecção que encontra expressão na natureza da arte. Quando o artista é bem dotado – aquele que tem um sentimento consciente, boa memória e uma sensibilidade equilibrada – ele intensifica os seus conceitos, penetrando na sua subjetividade que é condensada à sua experiência de modo a formar uma realidade do espírito completa em si mesma. Dessa forma ele cria uma nova realidade em termos de meio de expressão. O meio de expressão se converte na obra de arte, desde que o artista seja intuitivo e ao mesmo tempo domine a natureza essencial da arte e os princípios que a governam.
Uma obra de arte é um mundo em si que reflete as percepções e emoções do mundo do artista. Tal como a flor, que, devido a sua existência como um organismo completo, é ornamental e ao mesmo tempo auto-suficiente quanto à cor, forma e textura, também a arte tem uma existência singular e é mais do que um simples ornamento.


Sobre a criação



A mente criativa e abrangente não conhece fronteiras. A mente nunca pára de ter novos domínios sob seu controle. Todas as nossas experiências culminam na percepção do universo como um todo e do homem como seu centro. A experiência visual não pode basear-se exclusivamente no sentimento e na percepção. Os sentimentos e percepções que não são sublimados pela essência das coisas se perdem no sentimental.
Toda expressão artística profunda é a soma do sentimento consciente mais a realidade. Isto se refere à realidade da natureza e à realidade da vida intrínseca ao meio de expressão. A diferença entre a arte produzida por crianças e as grandes obras de arte é que a primeira se situa ao nível do subconsciente e do emocional, enquanto a segunda se faz por meio de uma percepção consciente durante o desenrolar da obra e tem no plano emocional um maior controle sobre o meio de expressão. Para se perceber visualmente e transformar em termos plásticos o que foi percebido, é necessário a faculdade de empatia. (pg. 547).



Hans Hofmann ( 1880-1966) , pintor expressionista abstrato, professor influente de toda uma geração de artistas. Ele aprendeu e escreveu a respeito de suas próprias teorias de composição e cor por toda a vida, explorando incansavelmente a estrutrura pictórica, as tensões espaciais e as relações entre as cores. Segundo Sergio Fingermann: “Hofmann no fala da natureza como fonte de inspiração, este olhar para fora, como experiência de percurso, mas também na transcendência, na intuição, no instinto criativo, como forma de elaborar a experiência. Onde a criação não é a reprodução do fato observado, mas a elaboração destas sensações. Fala do plano pictórico como espaço de ilusão. O ver no engano, na ilusão , na superfície onde a pintura existe. Dar consciência ao ato de pintar.” Como leitura complementar foi sugerido o “Viajante e a sua sombra” de Nietzsche, e o filme “As praias de Agnes Varda”


Ver mais sobre  Hans Hofmann aqui.